Muito prazer, meu nome é outono.

28.7.10

Sobre sorrisos e respeito

"- Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo.



E é bem por aí mesmo...

Eis que um dia tu conheceu uma garota legal. Um sorriso bonito, um gosto musical que fluía com o seu e conversas que duravam mais do que uma madrugada poderia reter. Se beijaram, tiveram uma história bacana. Para ela as coisas eram assim também. Espero que para você tenha realmente sido como foi descrito. Foram dias apaixonantes, apaixonados. Início de grandes declarações, coisas bonitas de se ouvir e de se dizer. E beijos. Ah, sim, os beijos foram tão importantes quanto. Aí acabou. Tudo bem, acontece. Ela ficou chateada, pareceu que você não se importou muito. Mas tudo bem. Quem se importa? É assim mesmo, arde e depois passa. Ela voltou a sorrir tão bonito quanto antes dos seus elogios, continua a escutar no último volume suas músicas preferidas (suas... e dela), a ter um papo divertido. Dizem que o beijo dela até melhorou. Sim, é assim mesmo. Ela ainda pensa em você quando está de tpm e falta chocolate e pensamento melhor na mente, mas nada grave. Ela jura. Ela aprendeu a superar de uma maneira mais bonita e menos dramática. Com menos lágrimas e mais tequila. E mais sorrisos e mais amigos. E mais festas de faculdade e veteranos gatos. Você também mudou. Arrumou outro emprego, outras formas de falar de amor e um novo corte de cabelo, quem sabe. A vida é para mudar mesmo, meus caros. Aí você conheceu um alguém. Uma outra alguém, aliás. Uma alguém que parece ter um sorriso bonito, um bom papo e um cabelo que deveria ser sacudido em um comercial de shampoo. A gente se apaixona à toa. É normal. A alguém te faz bem, sorte tua. Iniciam uma nova história de amor, dessas que ainda não dá para avaliar se acabará em festa de bodas ou consulta à terapeutas, mas ainda assim, bonita. A outra garota legal? Mas como era o nome dela mesmo, hein? Não tem problema nenhum em ser civilizado. Não quer, tudo bem. Respeito aos próprios sentimentos é primordial. Acontece, mesmo. Mas não vale esquecer que tu prometeu seu coração à ela. A garota legal do início do texto, não a atual namorada. Ela acreditou, sabe? E doeu tu ter tomado ele das mãos dela como se não fosse nada. Ela superou, voltou a sorrir bonito, mas não significa que ela não se importa mais. Poxa! Acabou e tu nem se deu ao trabalho de dizer o motivo. Ela teve que colar sozinha o coração dela. Tudo bem que o coração dela já adquiriu uma matéria um tanto elástica depois de tudo que já passou, mas ainda deve ser tratado com cuidado. Aí tu faz declarações a nova garota que te faz bem e sorri bonito. Faz promessas e a beija. A garota legal do início do texto não liga para isso. Ela é a boazinha e até torce para tua felicidade. Desde que haja respeito. As promessas, os beijos, as declarações... tudo bem, mas tinha que ser igual às que tu fazia para ela? Você chegou a reparar? Os mesmos apelidos, os mesmos símbolos, a porra da mesma frase que ela tantas vezes te dedicou... Isso é feio, rapaz. Mamãe nunca te ensinou a tratar direito coração de donzelas indefesas que nunca fizeram nada contra você? É errado com as duas, sabe? As duas garotas legais do sorriso bonito. As duas que tu já prometeu teu coração. A do início da história e a que chegou depois. As duas não merecem. E o errado é você. Quer ser feliz? Seja, oras. Mas invente apelidos e declarações novas, por favor. Respeite o amor antigo. Ele merece. Seu amor merece. Você merece. Elas merecem.

Pode parecer pouco, mas não se engane, ela não vai mais sorrir bonito para você.



(A Má continua sem saber terminar as histórias de maneira satisfatória. Vai ver que a história também não terminou. Não terminou, nem é satisfatória.)"

(A Gabi é fã de carteirinha da Má, e jura por tudo que sabe como ela está se sentindo)



O texto, obviamente, não é meu. Porque, durt, não tem nem jeito de Gabriela virar Má. Aliás, tem, mas não nesse sentido(hehehe).
Ele é da Maiara "Eduarda" Ribeiro Dias. E o blog dela é http://sobremedoselobos.blogspot.com/ . Confiram, minha irmã sabe o que faz.

26.7.10

Céu astral

Hoje, 02 de outubro de 2009, eu acordei às seis horas da manhã e, a minha primeira ação do dia foi bater a porra do dedinho na quina da cama. Xinguei, como todo ser humano normal, todos os palavrões possíveis e inimagináveis. Fui tomar banho e percebi que o caralho da energia tinha acabado - o que significava nada de água quente, secador de cabelo ou maquiagem. Muito legal, ir à escola com essa cara de morta-viva uma semana depois de ter tomado um pé na bunda.

Cheguei ao portão do Leonardo da Vinci e encontrei minha querida melhor amiga que nem disfarçou e, de cara, disse “nossa, o que aconteceu com você¿ morreu e esqueceu de cair¿”. Bem brother essa Alice mesmo, ao invés de me apoiar... Mas ok. Culpei a merda da semana de provas, porque, afinal de contas, ninguém tem muito tempo pra ficar se arrumando na semana de provas.

Química, química, física, intervalo, matemática, física, filosofia. Não preciso nem comentar. Como futura aluna de Comunicação Social eu não era lá muito boa em exatas. É, futura aluna. Porque, an... Eu não havia passado no cu da UnB. O que é uma puta duma injustiça, já que eu mereço tanto, me esforço tanto... Mas tanto faz.

Voltei para casa. Era fígado no almoço. Sem brincadeira, FÍGADO. Quais as chances¿ E não só fígado... Era fígado, vegetais cozidos, arroz integral e feijão sem tempero. Uma delícia. Logo hoje que eu tava com uma vontade filha da puta de comer aquele filé à parmegiana... Mas ok, fazer o que, né¿

Resolvi tirar um bendito cochilo porque, afinal de contas, também sou filha de Deus. E advinha¿ Caí da porra da cama. Literalmente. Sonhei que estava caindo e... caí.

Levantei, precisava estudar. Biologia e geografia. O que seria até legal, se eu entendesse alguma porra de biologia e/ou gostasse de pelo menos um dos meus professores de geografia. Mas nãao... Tinha de ser mesmo aquele escroto ridículo do Hércules tentando explicar os problemas na região da Chechênia. QUEM LIGA PRO CARALHO DA CHECHÊNIA¿ OLHA O NOME DO PAÍS, MANO. C H E C H Ê N I A!

Ok. Decorei todos os pequenos nomezinhos sobre o sistema respiratório, todas as doenças do Paulo Ricardo (meu professor de biologia, que jura tem todas as doenças que a gente aprendeu durante o ano, menos disfunção erétil) e o quadrinho imbecil relacionando aquilo com aquilo outro.

Estava prestes a começar geografia porque, afinal de contas, eu não sabia o que era/se era/aonde era a Chechênia... Quando a minha barriga roncou. E é claro que ela roncou, porra. A minha última refeição tinha sido FÍGADO na hora do almoço. Resolvi tirar uma pausa e ir à padaria comer pão de queijo. Porque eu amo pão de queijo. Pão de queijo, todinho e um saquinho pequeno dos mm’s de amendoim. É, era disso que eu precisava.

Fui à padaria e tive sorte pela primeira vez no dia. O pão de queijo estava quentinho, tinha acabado de sair do forno. O todinho tava um gelo e os mm’s na promoção. Uma delícia completa. À essa altura do campeonato, já eram umas 18:30 da tarde. Minha hora preferida do dia, no horário de verão. O sol estava quase se pondo.

Resolvi subir para a cobertura e comer lá. Sair um pouco desse quarto abafado e que cheira à matemática e literatura.

Enquanto esperava por um milagre para resolver todos os meus problemas, problemas e problemas, o sol se punha. E eu percebi que... O por do sol estava mesmo bonito naquele fim de tarde. Foi impossível não sorrir. Sentia-me bem ali, no lugar certo.

E essa é a história de como, por um minuto ou dois, - olhando para aquele misto de rosa, laranja, azul e outros pequenos pedaços da rosácea cromática – eu descobri que a vida é maravilhosa. Maravilhosa de verdade, não do jeito daqueles clichês ensinados nas comédias românticas ou nos textos do Carlos Drummond de Andrade. Maravilhosa de um jeito inexplicável. Tudo – tudo mesmo – é pequeno demais, se comparado com a imensidão da beleza das corres nesse céu.

Foi o meu milagre. Meu pequeno milagre. Não tenho mais problemas, tá tudo dando certo.

(Gabriela é completamente apaixonada pelo pôr do sol)

21.7.10

Meu (ANTI) herói

Anti sim – e em vermelho, negrito, caixa alta, sublinhado, fonte 40. Porque, definitivamente, ele não é herói. Não possui nem os superpoderes, nem o caráter necessário para ocupar esse cargo. Mas quem é que gosta de heróis? O mundo gosta mesmo é de gente assim, humana. Gente interessante. Gente do jeitinho dele cheia de defeitos, manias, loucuras, imperfeições. Gente como o meu melhor amigo.

Ele não vai pagar – se você não for aquela com o título de namorada – a sua entrada no cinema, não vai te tratar feito coitadinha, não vai te ligar de volta quando você desligar na cara dele. Vai é ficar puto quando você estiver na TPM, te cobrar dez reais pela honestidade e estar sempre te devendo (e te cobrando) dinheiro. Ele fala palavrões, grita com você, bebe pra caralho e ultrapassa no sinal vermelho. É irritante, ciumento, impaciente, insensível, incapaz de tirar fotos de olhos abetos, bruto, idiota, homofóbico, gordo, imbecil, careca, tarado, péssimo perdedor no Mário Kart, preocupado, irritado, irritante... E, ainda assim, uma das melhores pessoas que eu conheço.

O destino o colocou na minha sala de aula há dois anos e um semestre e, nesse meio tempo, ele se tornou uma parte indispensável da minha vida. Seja roubando a minha comida, seja me engordando com as barrinhas de chocolate da Cacau Show. Seja vendo o sol se por na cobertura, seja olhando as estrelas encolhidos no chão e morrendo de frio com mais um monte de gente (depois de ele ter cozinhado um macarrão ao molho branco delicioso, com direito a petit gateau de sobremesa).

Já secou as lágrimas que teimavam em cair no meu rosto, já riu de mim e comigo, já carregou a minha mochila porque tava pesada demais. Confio nele para tudo: dos segredos mais cabeludos, aos conselhos mais importantes. Foi quem estava aqui o tempo inteiro, me desejando boas noites quando mais ninguém parecia se importar. É da masculinidade dele que eu me esqueço de vez em quando, e começo a mostrar todas as roupas compradas no último final de semana. É ele quem me diz se eu engordei ou emagreci, se meu cabelo ficou bom nesse comprimento, se minha roupa ta combinando. São deles os números de telefone e o endereço que eu sei de cor.

Temos histórias. Das engraçadas e duvidosas, às normais e chatas. Era ele o professor de química na véspera da prova, o nerd que me fazia sentar no sofá pra ler pela décima quinta vez o resumo de literatura. Foi graças a ele que eu passei na UnB. E graças a mim que ele entrou também.

Ainda sobre as nossas tardes de “estudos”, lembro-me claramente do dia no qual meu querido melhor amigo me convenceu que era uma ótima ideia nadar um pouco na véspera da prova de física. Era o primeiro dia de sol em semanas, afinal. Também é impossível se esquecer da tarde na qual ele enfiou uma colher de arroz cheia de sorvete pela boca e conseguiu não cuspir, ou de quando ele quase incendiou a minha cozinha por não ter colocado óleo o suficiente na frigideira. Nossa dupla de estudos gerou uma amizade, hoje, indispensável.

É incrível de como não consigo me lembrar de uma única fórmula matemática, mas sei de cor todos os salgadinhos da padaria, os sabores de pizza do postinho e as conversas confidenciais que tínhamos na pausa para o lanche. Ele é a parte errada em mim, a parte espontânea, a parte que não vai me julgar independentemente do quão feio eu erre. Ótimas histórias, maravilhosas lembranças.

Entretanto, ainda mais importante do que as histórias ou lembranças, é aquilo inerente à parte boa da sua personalidade, em especial seu abraço e seu sorriso. O abraço dele é algo surreal. Apertado, e dura pelo menos sete segundos. Dá vontade de ficar ali eternamente. O conforto por dentre aqueles braços era a melhor parte da minha manhã, e, às vezes, eu me arrependo de não ter lhe dito isso mais vezes (se é que já disse alguma vez). O sorriso é de moleque ainda não crescido. É um sorriso implícito, repleto de entrelinhas – diz muito mais do que um simples arranjo de dentes sobre dentes. É do tipo que te deixa feliz também, dá vontade de sorrir junto.

Confesso que meu anti-herói ainda não salvou a minha vida. Mas...

Ele me faz voar ao me empurrar forte para o balanço ir bem alto, salva o branco do meu all star me carregando nas costas pelo trecho cheio de lama. É quem me ajudou a colar de volta o coração em pedaços, quem me contou o que era difícil de escutar, mas precisava ser ouvido. Foi quem me resgatou daquela aula chata de inglês me convencendo a matá-la embaixo de um bloco, e quem me liga sempre para não falar nada, ou para falar tudo.

Os telefonemas, aliás, merecem um parágrafo só deles. Eram, no ano passado, mais da metade da conta de telefone. Conversamos sobre tudo. Política, crise econômica, sexo, livros, gastronomia, relacionamento, fofocas, planos, viagens. Esboço um sorriso toda vez que vejo o número dele na bina, porque sei que a conversa será longa – mas nem um pouco desprazerosa. Peço aqui desculpas sinceras por não ligar um pouco mais, tento sinceramente mudar isso em mim, porque sei o quanto significa para você. Vou colocar na minha listinha de promessas do próximo semestre, ok? Tudo vai voltar a ser como em 2009.

Ainda falta falar do relacionamento dele com a minha família, porque não acho que esse seja um assunto secundário. Meu irmão prefere (de fato) ele a mim, sempre conversam de futebol ou violão, riem juntos, e não se irritam como me irritam. Minha mãe o ama de paixão, quando não estão cozinhando juntos, é ela o convidando para almoçar lá em casa na próxima semana (estrogonofe de carne para o prato principal, mousse de chocolate para a sobremesa). O meu pai não o detesta, e todos que conhecem o relacionamento do meu pai com outros meninos importantes na minha vida sabem que isso já é um avanço magnífico.

Sei que preciso acabar com esse texto de alguma maneira, mas confesso não saber como. As palavras me fogem, porque quero que a gente não termine nunca. Faltam ainda muitas histórias a serem contadas, e ainda mais delas a serem vividas. Sei que o mundo gira e é malvado, separa o que devia ficar sempre junto.

Termino então dizendo que, independentemente de tudo o que está pra acontecer, ele vai ser sempre o meu melhor amigo, o meu mal elemento, o meu anti-herói.

Porque, independentemente de tudo o que está pra acontecer, eu vou ser sempre a primeira pessoa a quem ele disse que amava na cidade de Brasília.

(Gabriela não sabia que sentia tanta falta assim de ter Lucas em seu cotidiano)

19.7.10

Ele a ama como só se ama uma vez na vida, ela também.

Tudo começou no Ginásio Bom Lustrosa – colégio e internato católico –, localizado na cidade de Patrocínio, em Minas Gerais. Era lá que ele estudava e pretendia completar o primário. Teria um ótimo futuro e muito dinheiro. Era batalhador. Tudo andava nos trilhos, até que – após um ano de curso – anunciaram o fim do internato, e, assim, os alunos não poderiam mais passar o dia e a noite na escola.

Ele morava na roça, não teria condições de ir e voltar todos os dias para a sua casa. Confessa que ficou desesperado, pensou em desistir. Mas não antes de tentar. Explicou a situação para um amigo que, por carta, pediu moradia para ele na casa de alguns conhecidos. Essas pessoas ofereceram abrigo, ele aceitou. E foi assim que a conheceu. Uma amiga de um amigo dele.

A vida dela era pacata. Pacata não, maçante. Não estudava, não tinha grandes ambições, não sonhava com o amor eterno. Só queria ficar ali, ajudando a mamãe e o papai. Bem ali, na pequena cidade de Patrocínio. Confessa que a vida continuou, por anos, a mesma. Um dia após o outro, e ninguém sempre. Até ela passar a ver com outros olhos o menino humilde que pedira abrigo em sua casa... Muito depois de ele ter começado a vê-la com outros olhos.

Ele se apaixonou, e sabe exatamente o momento em que isso aconteceu. O pai dele acabara de falecer, e o mundo inteiro parecia adorar tocar no assunto. Queriam saber como ele se sentia sobre isso, se precisava de algo, como foi, quando foi. Mas ela não. Ela perguntava se estava tudo bem, e conversava com ele sobre tudo – menos isso. Conversaram sobre o tempo, sobre a vida, sobre os poetas, contaram piadas, riram. Ela o tratou como ele precisava ser tratado, e ele tem certeza de que foi isso que o ajudou a superar a morte do pai. Ela era diferente.

Ela achou nele um grande amigo em uma péssima ocasião. A morte do pai o deixara arrasado. Ela não sabia exatamente como ajudá-lo, mas não conseguia ficar parada. Tentava distraí-lo, contar piadas, rir um pouco. E, aos poucos, aquele menino calado do interior tornou-se um grande amigo. Aos poucos, um confidente. Aos poucos, indispensável. Ele era diferente.

Mais dia, menos dia, ele perguntou a ela se acreditava ser possível amar em menos de seis meses. Ela disse que não, que amor, amor mesmo, leva tempo. Ele deixou pra lá. Vai ver aquilo lá não era amor, amor mesmo. Era só o coração acelerando, a barriga sentindo frio, os sorrisos saindo sem querer. Era só o arrepio na espinha toda vez que os olhares se cruzavam. Vai ver nem era amor. Vai ver, ele estava exagerando.

Vai ver não.

Passaram-se anos, e toda essa sinestesia de sensações continuava lá. Toda vez que, sem querer, as mãos se encostavam. Em cada esboço de sorriso, em cada risada exagerada. Ele a amava sim... Mas ela nem percebia nada.

Passaram-se anos desde aquela primeira vez na qual ele perguntou, para ela, sobre amor. Aquela pergunta repetida periodicamente. Ela não era boba, entendia o motivo, mas não queria acreditar. Ele a amava sim, e nem percebia que ela percebia tudo.

Nesse meio tempo, a amizade aumentou. Ela enfeitava-se para sair e perguntava a ele se estava bonita. Ele dizia que sim, é claro... Mas ficaria muito melhor sem os brincos. As conversas eram longas, o assunto não acabava. E, se acabava, não era incomodo. Compartilhavam experiências. Ele tinha ambições, planos para o futuro. Ela, no começo, não. Mas aos poucos ele passou para ela essa paixão pelo desconhecido, essa vontade de viver. A vida não era mais a mesma. Eram ótimos amigos. Mas esse não é um conto de amizade. Tá mais pra epopéia de amor.

Os dias foram passando, e acabaram-se quatro calendários desde que ele pisara na casa dela pela primeira vez. Estava quase na hora de ir embora.

Ele não aguentava mais guardar aquele segredo, parecia que ia explodir. Resolveu contar. Mas quando? Como? Onde? Começou devagar. Perguntou a ela como fazer para conquistar uma moça mais velha. Ela entusiasmou-se com a ideia, pediu a ele que contasse tudo, ela o ajudaria. Ele disse que não podia contar. Ela insistiu. Ele negou novamente. Ela insistiu mais um pouco...

Não se sabe como, mas ficou decidido que no dia 27 de novembro ele revelaria seu segredo. Faltariam, então, apenas oito dias para a festa de formatura. Se ela não correspondesse, seria uma tortura breve. E ele, então, iria embora para sempre.

O tão temido e esperado dia 27 de novembro foi, no mínimo, mágico – mas não pela sua essência. Ele a convidou para ir ao cinema, ela aceitou. Eles caminharam um pouco depois disso. Um mero programa de namorados, ainda que não o fossem. A magia estava nas palavras intrínsecas, na respiração afobada. A magia estava naquilo que não se pode imaginar – só se sente caso você faça parte daquilo.

Ele tentou contar várias vezes, ela desconversava. Tinha medo da verdade. Medo de se entregar, de assumir o compromisso e, assim, perder o seu melhor amigo. Ele queria arriscar.

Voltaram para casa. Ele não disse o que queria dizer, mas escreveu. Entregou para ela uma carta linda, repleta de sinceridade. Disse a ela para ler quando estivesse pronta.

Ela não leu quando estava pronta, era curiosa demais para esperar. Confessa que, até hoje, não leu algo tão bonito assim. Ele confessava amá-la “como se ama apenas uma vez na vida”. E era verdade. Ela podia sentir a honestidade nas entrelinhas.

Infelizmente, ela não soube lidar com isso. Ficaram brigados por cinco dias. E, na formatura, ela não quis dançar com ele. Passados os cinco dias, entretanto, ele a pediu em namoro. Ela aceitou, eles se beijaram... Mas a despedida chegou rápido.

Não se viram por muito, muito tempo. As cartas, entretanto, eram diárias. O carteiro até já os reconhecia. Namoro à distância é difícil, muito difícil mesmo. Ainda mais naquela época... Tenho certeza de que, até hoje, o casal agradece pela invenção das cartas. Simples, escritas à mão. Foram elas que os colocaram juntos e, ainda mais importante, os mantiveram juntos.

Ele era muito bonito. E as biscates da época não respeitavam o amor incondicional que ele carregava dentro de si. Caíam em cima. Mas ele nem dava bola. O coração era de outra. Outra não, uma. Dela, só dela. Infinitamente.

Ela era taxada de boba, ingênua. Não era raro avisarem que ele não voltaria para se casar com ela. Era um rapaz bonito, tinha todo o futuro para sempre. Não ia voltar para uma moça não letrada, do interior de Minas Gerais. Mas ela acreditava nele. Indiscutivelmente.

Cartas e mais cartas, juras de amor, promessas... Distância.

A distância foi muita e por muito tempo. Ele estudou em Uberaba, em Ouro Preto, trabalhou na roça por alguns meses. Até que arranjou um emprego em Belo Horizonte. Durante todas essas cidades, foram cinco anos de história. Cinco anos de carta. Eles se viam muito pouco, e se amavam num amor que não pode ser mensurado em quilômetros.

Não moraram mais na mesma cidade, até que ele a pediu em casamento. Ela aceitou de imediato, tinha certeza de que era com ele que queria passar o resto da vida. Casaram-se. Viajaram de trem na lua de mel (sonho dela, desde a infância) e mudaram para um barraco em Belo Horizonte. Não era muito, mas era o que podiam pagar. O amor tomava conta do resto.

Tiveram sim brigas, crises de ciúmes, choros, velas, falta de dinheiro, aluguel atrasado, impostos, filhos chorando de madrugada... Mas, no fim, deu tudo certo.

Às vezes, tenho certeza, gostariam que alguém tivesse lhes contado que daria tudo certo. Tinha dia que faltava de tudo... Mas amor? O amor transbordava. Superaram tudo, e o amor ficou.

Quarenta e sete anos depois, Ele a ama como só se ama uma vez na vida. E ela também.

***

Ele e ela são Pedro e Tita. Meus avós. Casados, hoje, há quarenta e sete anos. Pais de cinco filhos, avós de cinco netos.

Fico orgulhosa de contar que ainda se olham com carinho, sorriem com ternura, completam as frases um do outro. Ele a deixa maluca, ela o irrita até cansar... Só pra provar que, no fim, ele é Romeu, ela é Julieta. Ele é queijo, ela goiabada.

(Gabriela quer um amor assim)

12.7.10

Donzela de Orléans

Trinta de maio de 1431, praça do velho mercado, Ruão - França

Agonia. Desgosto. Aflição. Angústia. E eu grito.

Dor – uma dor ardente, como nunca antes sentira. Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes? Eu fiz tudo certo, Senhor. Fiz o que as vozes mandavam. O que as Suas vozes mandavam. E os homens o que fizeram por mim? E Tu, Pai, o que fizestes por mim? Sou, hoje, taxada de bruxa, de feiticeira. Os borguinhões me capturaram, prenderam-me por dias e dias, me julgaram (como se eles tivessem esse direito), me deram comida envenenada... E aqueles ditos aliados não me salvaram. E o Senhor não me salvou. Decidiram – eles e vocês - pela minha morte, pela minha dor. E eu ainda grito.

E eu morro no coração da França. Da minha querida e amada França, pela qual eu arrisquei a minha vida, doei o meu sangue. Eu libertei suas terras, salvei o teu povo e é assim que me recompensas? A culpa é sua. Foi por ti, amada pátria, que lutei. E tu, ingrata pátria, não fostes capaz de me salvar. Morte na fogueira. Agonia. E eu ainda grito.

São noventa e quatro anos, e contando. Sede de sangue, de poder, de terras. Malditos são os ingleses e os franceses! Malditos são homens! Maldita é a guerra! Pra que tudo isso, meu Deus? Porque permites, em seu mundo, a matança desordenada, a opressão? Foi pra isso que eu lutei? Pra defender a esses que eu estou aqui? A humanidade não é irmã, muito pelo contrário. Matamos aqueles iguais a nós. Sim, matamos. E nesses, eu me incluo. Matei e morri em nome de Deus, mas pela mão dos homens. Desgosto. E eu ainda grito.

E se não fosse assim? Agora me pergunto o que teria acontecido se ignorasse as vozes, se tivesse me vestido como mulher, ordenhado as vacas e colhido os legumes. Tenho certeza de que outro seria igualmente capaz de libertar Orléans. E, se não fosse, não teria problema. Trocaríamos um líder, por outro. Um tirano, por outro. É uma pena perceber isso somente agora. Carlos VII é humano, é também sedento de sangue e de poder. Coloquei-o no trono, e, por ele, estou aqui. Aflição. E eu ainda grito.

Mas já não importa. Foi assim. Desisti da vida calma e pacata no dia em que aceitei a espada, o estandarte e o comando das tropas francesas. Fiz o que devia fazer, fiz o que as vozes mandavam. Mas, ainda assim, me arrependo, Senhor. Eu matei. Matei os iguais a mim para libertar terras sem importância. Só enxergo isso agora, e temo que seja tarde. A angústia está no ápice. E eu ainda grito, mas por pouco tempo.

Calmaria. Tranqüilidade. Paz. Silêncio. Porque já não grito.

(Joana D’arc foi canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva).

11.7.10

Por onde começar?

Porque eu te amo muito mais do que você poderia imaginar,
Aqui está o seu adeus amigável...

Cinco,
Acho que é bom começar (ou terminar...) dizendo que eu pensei muito em você nesse fim de semana. Não sei se foi porque passei umas quatro vezes em frente a sua casa, ou porque a música tema de Shrek 4 não é No Hablo Ingles. Lembra de quando eu te disse que passava no trailer? Eu sei que você se lembra. Sei que também vai pensar em mim quando essa música começar a tocar. Essa, ou qualquer outra deles.
Cada coisinha ainda vai ficar bem, seja forte, acredite! De um jeito ou de outro, sempre fica. Mas eu realmente não achei que fosse ser assim que ia terminar pra gente. Numa conversa mal resolvida, nesse apartamento vazio. Com você me dizendo que não sou eu. Mas isso não faz a menor diferença. Você não está escutando. Tem alguma coisa faltando? Você esqueceu onde o coração fica.
Eu me disse mil vezes pra não deixar isso ser amor. Porque machuca muito, quer você queira, ou não. Mas não consegui. Nem eu, nem você. Mas não se preocupe! Como eu já disse tantas e tantas vezes, não sou eu a garota certa pra você. Eu bem que queria, mas não sou. E isso não tem importância. Eu não quero entrar na sua mente ou nas suas calças, não quero perder meu tempo com amor e romance... Não vou ser a sua próxima ex namorada.

Seis,
Você está em todos os lugares pra mim, e quando eu fecho os meus olhos, é você que eu vejo. E eu realmente não sei quando isso foi começar a acontecer. Pode ter sido há um ano, ou há um mês, ou há três dias. Sei que, constantemente, é em você que eu penso nas horas iguais e nas diferentes. É pra você que eu tenho vontade de fazer uma última ligação, casualmente, porque depois de cinco drinks eu tô apaixonada de novo. E se eu te ligar bêbada, não desligue! Não fica puto, não desliga! Eu sei que tá tarde, mas nunca é tarde demais pra uma última ligação...
Você foi o meu maior relacionamento. Gosto de pensar que ainda é. Um ano e seis meses. Vezes três. E agora, acabou. De repente. E eu bem queria, mas não posso esquecer. Estou caindo nas memórias de você, das coisas que a gente costumava fazer. São as saudades... De tudo o que foi, mas também de tudo o que poderia ter sido, mas não foi. E não sei porque não foi! Não tive a coragem necessária para dizer aquilo que realmente importava, na hora que realmente importava. Eu sei que nós tivemos nossos problemas, mas não consigo me lembrar de nenhum. Você me deixou supondo, e agora eu sinto que perdi tempo sentindo sua falta... E eu quase tive você, quase amei você, quase desejei que você tivesse me amado de volta.

Sete,
(in)Felizmente, é no sete que o refrão acaba. Não sei se termino deprimida dizendo que as palavras de ninguém eram boas o suficiente pra definir do que a gente tinha medo. As palavras de ninguém são boas o suficiente pra consertar o que aconteceu aqui. Ou se enfatizo o tanto que queria te mandar calar a boca e sorrir. Acho que vou ficar com a segunda opção, combina mais com a gente. Assim, eu posso fingir que você está aqui nessa noite. E, quem sabe, um dia você vai estar mesmo. Me dizendo pra parar, voltar, fazer tudo de novo. Me guiando com calma, mostrando direitinho por onde começar.
Só não esquece, por favor, que, apesar de tudo, você é louco... e eu sou louca por você.


Não para sempre, mas enquanto for...
O seu final feliz.










(As partes em itálico são músicas do Yellowcard e do Bowling for Soup. Duas das minhas bandas preferidas. Só minhas, posso apostar).

5.7.10

Arbusto genealógico

Tudo começou em Adão e Eva. Seu desejo incontrolável por maçãs e sexo foram a base da gula e do tamanho da família Caixeta Alcuri. É claro que se eu fosse contar toda a história de lá para cá, não me restariam as oito horas de sono, as quais tanto necessito para não ficar tão chata de manhã cedo. E é por isso que eu quero um arbusto, e não uma árvore, pra traçar a minha genealogia.

Optei por começar traçando o perfil das duas mulheres mais interessantes da família. Minhas bisavós. Uma materna e uma paterna, ambas por parte de avô. Vovó Vitória e vovó Mariinha (desse jeitinho mesmo, porque não gostava de Mariazinha). São o oposto perfeito, é uma pena que não se conheceram. Seriam, juntas, geniais. Melhores amigas. Ou o contrário.

Vovó Vitória era uma mulher elegante, vaidosa, mandona. Só usava vestidos abaixo do joelho, acompanhados de meia calça e sapatos fechados. Possuía uma postura invejável e morreu aos sessenta anos, vinte anos depois de tê-los completado – traço herdado pelo meu querido padrinho e tio Fábio, o irmão do papai, que tem vinte e cinco anos há quase vinte e cinco anos. Não a conheci, mas tenho certeza de que ela foi uma mulher incrível. Sei disso porque, até hoje, quando me acomodo naquela postura meio curvada, típica de adolescentes de escola particular, minha mãe vira pra mim e fala: “O que diria a sua avó Vitória, menina, senta direito!”.

Já a vovó Mariinha... Ah, essa daí era uma moleca! Vestia-se com a ingenuidade de uma menina, com vestidos floridos de pano simples. Tinha o costume de beber uma dose de pinga por dia e adorava o cheiro de perfume. Tive o prazer de conhecê-la, de admirar de perto a suas rugas de experiência, de ouvir dela as histórias mais bonitas sobre o menino que sabia voar. A bisa morreu aos oitenta e três, quando eu tinha apenas oito. E, até hoje, eu consigo ver o sorriso ingênuo de quem daqui foi embora, mas deixou um bocado na gente.

E agora eu chego nos meus avós. Dona Bernadete, Seu Alcuri. Dona Margarida, Seu Caixeta. São assim chamados os meus queridos velhinhos pelos porteiros do bloco A, da 315 norte. E é assim que eu vou gostar de lembrar deles.

A vovó Dete é mãe de cinco filhos – o Zé, a Dedeia, o Fabinho, a Jô e a Dani -, vó de seis netos – eu, o Gui, o Lipe, a Julinha, a Bebel e a Mel -, católica fervorosa, acha que todos os jogadores do Brasil são o Kaká e me acha linda de morrer (papel de avó). É generosa como ninguém! A gente mal pode dizer que gosta de algo perto dela, porque, no segundo seguinte, tá carregando um embrulho pra dentro de casa. Ela é hiperativa pra caramba! No verão, sobe e desce escada, briga com a empregada, bota a Bebel pra dormir, faz o almoço, limpa a casa, estende a cama... Enquanto tá todo mundo na praia com as pernas pro ar. Aah, a dona Bernadete! Ela é diabética, e isso é um saco. Porque daí, ela não pode comer as maravilhas que cozinha. E como cozinha! Faz o melhor petit gateu e a melhor torta de limão do mundo inteiro. Eu amo a minha avó Bernadete, e queria mesmo que ela gostasse de ficar na praia com a gente, mas entendo que prefira as caminhadas no fim da tarde – justamente porque isso, eu puxei dela.

O meu avô Alcuri teve a sorte de casar com a minha avó Bernadete. Eles brigam feito cão e gato, mas se amam feito a Dama e o Vagabundo. Não que meu avô seja vagabundo, longe disso! Ele é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço. Ele me chama de Bibi, na verdade, BIII-BIII. Que nem o papa-léguas, sabe? Toda vez que me vê, abre um sorriso maravilhoso. E quando eu pergunto se está tudo bem ele responde feliz da vida: “Agora tá”. É fã número um de comida árabe e cerveja, o que explica bastante seu tipo físico avantajado. Mas não é egoísta com comida, longe disso! É, na verdade, muitíssimo generoso. O vovô Alcuri sempre divide o chocolate dele comigo. Foi ele quem deu pro meu irmão o álbum de figurinhas da copa do mundo. E só isso diz mais sobre ele do que qualquer palavra que eu possa escrever. Ele se preocupa com a gente, quase o mesmo tanto que nos preocupamos com ele. Queria que o seu problema pra dormir durasse pra sempre. Só pra ter ele sempre por aqui.

A vovó Margarida é a minha preferida (mas, por favor, não conte isso aos outros). Também é, ou melhor, foi mãe de cinco filhos – a Mone, o Pedro, o Rodrigo, a Lu e o Nando -, e é vó de cinco netos – eu, o Gui, o Rick, o Luca e a Anninha. Ela passou por muitas provações. Perdeu um filho, o tio Rodrigo, que morreu num acidente de carro. A filha mais nova casou-se com um alemão e foi morar lá longe, sem falar nos dois dos cinco netos, separados por mais de mil quilômetros de distância. Mas comigo, a vovó Tita não precisa se preocupar: prometo segurar o braço dela durante várias caminhadas pelo shopping, e abraçá-la por vezes sem conta. O abraço dela, por sinal, é meu porto seguro, a casa dela é meu abrigo quando eu não gosto mais da minha. A vovó Tita é a fã número um dos meus textos, da cor das minhas unhas, das roupas que eu uso. Ela também preferia o meu cabelo comprido e eu acho que, no fundo no fundo, é por isso que eu tô deixando ele crescer. Não gosto de pensar que ela tem setenta e poucos anos, porque pra mim... Parece que ela tem vinte e dois. Não é exagero dizer que a Tita é uma das minhas melhores amigas. E que eu espero fazer na vida dela um terço da diferença que ela faz na minha.

O vovô Caixeta acha que nunca é tarde pra começar a mudar o mundo. Um exemplo. Não só de vô, não só de pai... Mas de cidadão. Se todo mundo reclamasse o tanto que o meu vô reclama, esse Brasil ainda tinha jeito. Ele pagou um cara pra limpar o teto da banca – porque atrapalhava a vista, reclamou do vidro na bilheteria da rodoviária – porque não fazia sentido e fica puto com o quebra mola na entrada da minha garagem – e ainda vai lá reclamar com a síndica, mesmo que isso não seja da conta dele. Mas é da conta dele, porque é da nossa conta. E o meu avô é assim! Altruísta que só ele, preza por um amor ágape. E só tem duas coisas que ele gosta mais do que reclamar: viajar... E carros. O vovô já viajou por toda a Europa, fez um cruzeiro pela Itália, visitou a Grécia. Ele ama aprender línguas, provar novas comidas, ler e escrever (principalmente emails de reclamação...). Meu avô transpira cultura! É daqueles que ouve música clássica e prefere o vinho à cerveja. Mas ele não é chato, muito pelo contrário, é interessantíssimo. Se pudesse passaria horas e horas dos meus dias com ele me contando suas histórias. E só tem uma coisa que ele gosta ainda mais do que viajar e carros: a gente. O meu avô ama e preza pela família dele, dá pra notar.

E agora, finalmente, eu chego na geração anterior à minha. Tenho, claro, um pai e uma mãe, um padrinho (que também é pai) e uma madrinha (que também é mãe). E, fora eles, dez tios e tias que fazem as vezes de quantos pais e mães eu precisar. Mas, caramba, eu entendo que paciência tem limite. E que só eu dentro dessa sala amo a minha família tanto assim.

Então vou me ater ao que, para aqui, importa. Na Simone Maria Caixeta, que ainda não era Alcuri e no José Roberto que já é Alcuri Júnior. Ela é mineira da cidade do interior, ele é capixaba da cidade do interior. E aí, os dois decidiram vir pra outro interior, o do país. E, em Brasília, descobriram que não se chamavam Eduardo e Mônica... Mas, ainda assim, ele completava ela e vice versa, que nem feijão com arroz.

Não vou escrever aqui sobre a minha mãe e o meu pai, seriam pelo menos mais duas páginas dos elogios e defeitos do casal perfeito um pro outro. Isso fica pra um outro texto, provavelmente não de OT. Provavelmente, uma homenagem de dia das mães, dos pais, natal ou aniversário.

Basta dizer aqui que a Simone é mandona, birrenta, chorona, medrosa, assiste às comédias românticas e aos seriados e ama o José com todo o seu ser. O José é obediente, implicante, abraçador, secador de lágrimas, assiste aos filmes de terror, baixa os seriados e ama a Simone com todo o seu ser. Mas é tanto amor que transbordou.

E eles tiveram a Gabriela primeiro, o Guilherme depois. Tem dias que todo mundo desejava que eles tivessem parado pela Gabriela mesmo... Mas isso é só uma fase. O Gui ainda vai ser um amor de pessoa. Ele tem potencial pra isso. Dá pra ver pelo jeito bonitinho no qual ele atende o telefone, na risada irritante que ele dá depois de me provocar um pouco e nas músicas dedilhadas no violão.

Quanto a mim? Não sei bem o que dizer. Gosto de pensar que imito as roupas e o estilo da vovó Vitória – tirando a parte das saias embaixo do joelho -, levo comigo o jeito de moleca e o gosto por histórias da vovó Mariinha. Sou cabeça dura que nem a minha tia Jô, empolgada que nem meu padrinho Fábio, amorosa como a tia Dedeia e sentimental que nem minha dinda Lu. Com os meus avós, eu espero aprender muito mais, e levo deles carinho incondicional por todos que habitam a minha volta. Acho que falta um pouco mais do jeitinho fofo da tia Dani, do otimismo do tio Nando e da coragem do meu tio Pedro. E, dos meus primos, eu queria o companheirismo do Luquinha, o abraço da Anninha, o sorriso da Julinha, as festinhas com o Lipe... E a risada da Mel como o único som pra ser ouvido por toda a minha vida.

(Gabriela chorou rios escrevendo esse texto, e sente que irá continuá-lo em breve)