Muito prazer, meu nome é outono.

25.4.10

Figurinhas repetidas


Figurinhas repetidas não completam álbum. Mas eu chego lá.
Antes deixa eu explicar o motivo do Messi. E do Beckham. E do Kaká. Acontece que, recentemente, eu e meu irmão resolvemos completar o álbum de figurinhas da copa do mundo. A diversão é garantida tanto pra quem gosta de futebol (ele), quanto pra quem só quer dar uma olhada nos jogadores gostosinhos (eu). Adoro organizar as figurinhas em ordem decrescente, perder de 20 a zero daquele maldito papelzinho grudado atrás delas e, finalmente, colá-las em seu devido lugar - o quadradinho mágico que fica tão mais bonito quando preenchido pela face de um jogado de futebol. Ou um escudo brilhante. Ou metade de um estágio. Tanto faz.
O inconveniente é um só: enquanto o número de figurinhas inéditas cresce em PA, o monte das repetidas o faz em PG. E surge então o dilema de todos que já foram viciados em pokémon ou futebol: "O que demônios eu faço com essas malditas que não saem do meu pé e já não servem pro meu álbum?".
Você, meu caro colecionador, pode trocar, jogar bafo, vender, colar na agenda, no quadro de fotos, na parede do seu quarto, comprar um outro álbum e começar de novo, colar por cima da original, fazer tráfico, comer ou jogar fora... Depende da figurinha. E é aí que entra o Messi. E o Beckham. E o Kaká.
A parte mais engraçada da história é que nenhum deles faz parte das chamadas "figurinhas brilhantes".
Ainda assim eu e meu irmão combinamos que dessas figurinhas íamos guardar pelo menos três antes de destiná-las a qualquer outro fim (que não fosse, óbvio, nosso tão adorado álbum de figurinhas da copa do mundo de 2010). Os motivos são óbvios.
O Messi é talentoso demais, o Beckham gostoso demais e o Kaka virgem demais pra serem vendidos ou bafados.
O Messi vai pro quadro de recados e pro armário do meu irmão, que um dia ainda sonha em jogar que nem ele (o coitado do Gui tem dois pés esquerdos...). O Beckham vai pra minha agenda e pro meu quadro de fotos, por conta disso http://oglobo.globo.com/fotos/2007/12/11/11_MHG_cult_beckham.jpg e disso http://licagoersch.files.wordpress.com/2009/06/wp_david_beckham__3_1024x768.jpg . E o Kaká... ele é muito fofo, gente... quem é que casa virgem hoje em dia? Imagina daqui há 30 anos! Essa figurinha vai ser uma lenda!
Todas as outras nós trocamos. As brilhantes por cinco normais e uma normal por outra. São essas as regras, caras amigas. Se você pega um (opa! uma...) brilhante se dá bem!
Por fim, figurinhas repetidas não completam álbum.
Mas quem quer completar um álbum? É só um livro de $3,50, peloamordeDeus! O importante mesmo são as figurinhas. Essas sim, repetidas ou não, sempre nos dão ideias malucas na cabeça. De colar por cima a jogar no lixo, a escolha é sua, linda!

(Gabriela é bastante apegada às suas "figurinhas repetidas". Gosta de pensar que são sempre brilhantes)

14.4.10

Ela usava all star, ele nike shox



Não sei como desabafar.
Ele era magro demais pra ela. Ela era pequena demais pra ele. E, definitivamente, não dava pra conversar sobre música. Ele gostava de meninas loiras, altas... Ela gostava de meninos loiros, médios... Eram muito diferentes pra tentar. Mas tentaram, arriscaram, construíram lembranças maravilhosas. Mas, calma, eu chego lá...
Essa história começou muito antes de doze de outubro, mas eu vou começar a partir daí. Porque nesse dia, há cinco anos atrás, foi descoberto que apesar de todas as diferenças, o beijo era excepcional, do tipo que faz as borboletas voarem adoidadas pelo corpo inteiro e a terra girar mais rápido. Foi um dia bonito pra se começar uma história de amor. E um dia bonito para acabá-la. Ela não podia se apaixonar mais por aquele garoto estúpido. Ele não podia se apaixonar.
A história ficou em stand by por seis semanas. Tempo suficiente pra ela seguir em frente... e ele fingir que não se importava. E então eles viajaram com a escola pelo fim de semana. Fim do stand by. Início de uma grande confusão na cabeça deles. Mas, calma, eu chego lá...
Porque agora eu acabam de começar as lembranças maravilhosas.
Eles ficaram em quartos vizinhos, de modo que eram os primeiros a se dar bom dia e os últimos a se dar boa noite. Era difícil conter o coração. Na sexta feira choveu o suficiente pra limpar a alma. Ela se molhou. Ele ficou protegido. Ela saiu correndo e o abraçou. Ele a segurou no colo e a levou para fora. Ficaram lá por uns dois minutos. Não se beijaram, mas o mundo tremeu. Ela não mudaria nada nesse momento.
Sábado teve uma festa de dia das bruxas. Ela estava com seu vestido da sorte. Preto, indefectível. Ele estava maravilhoso, sua roupa parecia destacar o verde de seus olhos... A química foi inevitável. Como dois pólos opostos. Positivo, negativo. As diferenças não importavam. Se beijaram. Dançaram um pouco. (Ele, divinamente. Ela... nem tanto). Se beijaram. Andaram de mãos dadas. Se beijaram. Ele a empurrou no balanço. Se beijaram. Foram juntos para quartos separados. Beijo de boa noite... E veio o dia seguinte. Pra que serve mesmo o amanhecer?
Cheguei lá. A confusão parecia tomar conta de cada centímetro quadrado do corpo de ambos. Eram apenas crianças, não sabiam lidar com isso. Resolveram ignorar-se durante o dia seguinte. Ela estava no início de um compromisso, afinal... E ele não estava pronto para um.
Voltaram ao mundo real. Ela começou um namoro, seu primeiro namoro. E quem podia culpá-la? Era mais fácil assim. Fingir felicidade...
Nossos protagonistas eram obrigados a se encontrar todos os dias. Um cotidiano de olhares desviados e palavras não ditas. Até chegarem as férias. Benditas férias! Ou, pelo menos, era isso que ela pensava...
Existem distâncias que só servem pra aproximar o inevitável. Foi o caso. Ele começou a puxar assunto com ela todos os dias. Ela gostava. Ele fazia promessas de amor, pedia à ela pra jogar tudo pro alto. Ela tinha vontade, mas pediu um tempo pra pensar. Viajou.
Mas, como eu disse, existem distâncias que só servem pra aproximar o inevitável. Ela não conseguiu pensar em seu namorado durante o mês que ficou longe de Brasília. O estranho que assombrava seu pensamento era outro. Tudo o que ela queria era mergulhar naqueles olhos...
Ela voltou, terminou seu namoro, ligou pra ele. Ele foi congelante de tão frio. Ela se sentiu estúpida, era só mais um de seus joguinhos...
Nesse verão, ela emagreceu cinco quilos. Voltou às aulas mais feliz e mais magra. Ele a quis de volta. Ia ter que rebolar. E rebolou. Ela não sabe como deixou isso acontecer, estava apaixonada por ele no minuto seguinte... mas dessa vez não ia se entregar. Ela sente muito por isso, mas não pede desculpas.
Eles namoraram por um ano e um mês. Treze. Terminaram duas vezes antes do fim, porque nunca acreditaram que ele fosse mesmo chegar.
Ela o amava com todo o seu ser, mas era incapaz de demonstrar. Ele a amava com todo seu ser, e mudou por ela. Muito. Hoje ela percebe o quanto é grata por isso. Ele a ensinou a ver o coelhinho na lua, a enxergar coração em nuvem. Ela o ensinou matemática e inglês. Ela nunca o colocou na frente dos amigos. Ele colocou um anel em seu dedo, deu um ursinho pra abraçar antes de dormir. Ela o abraçava o tempo todo, queria estar ali pra ele... Só não conseguia. Amor não faltava. Faltava diálogo, compreensão... Faltava confiança. E as diferenças começaram a pesar...
O ciúme era prato principal, brigavam demais... e ela se recusava a deixá-lo fazer parte de sua vida, era melhor ter cuidado. Ela sente muito por isso, mas não se desculpa. Como poderia, afinal? Ele a machucara tanto...
O ciúme era prato principal, brigavam demais... e ele queria fazer parte da vida dela, mas ela tinha muito cuidado! Ele sente muito por isso e se desculpa. Ele a machucara demais...
Mas eles foram levando. Uma pilha de conversas evitadas, pensamentos não ditos, olhares desapontados. Acumulou, como aquele armário bagunçado de toda santa casa... que ninguém tem coragem de limpar.
Até que em uma dessas brigas mal resolvidas, ele deu a outra boca o beijo que era só dela. Ela o perdoaria se tivesse sido só isso. Beijos não são contratos. O problema foram as mãos dadas no dia seguinte. O sentimento... Isso não dava pra perdoar.
O mundo caiu, mas ela carregou nas costas. Foi fácil, ele era só uma pequena parte de sua vida. Não fazia parte dela. Ela não lembra de ter derramado mais de duas ou três lágrimas. Sentia falta dele, é claro. Mas não admitiria. Nunca. Três meses depois, estava de volta. Apaixonada por outro alguém. Já podia pensar nele com carinho. Lembrar sem doer.
O mundo caiu e o esmagou. Foi difícil, ela era sua vida inteira. Ele chorou escondido e esmurrou as paredes. Sentia falta dela, é claro. Mas não admitira. Nunca. Ela a superou rápido demais. Ele não superou. Namorou outras vezes, antes dela até... Mas jamais seria a mesma coisa. Ainda não pode pensar nela com carinho. Ainda dói lembrar.
Eles passaram anos sem trocar uma palavra. Um sorriso. Um aceno de cabeça. O amor não se transformou nem em bom dia.
Ela sabia o que tinha feito de errado, ele também. Mas são ambos teimosos e orgulhosos demais pra dar o primeiro passo e resolver. É mais fácil deixar pra lá... Mais uma conversa evitada, mais uma tralha pro armário.
Anos depois, eles se encontram no churrasco da escola. Revertigo. Não fazia sentido estarem separados. Não conseguiam parar de se olhar. Ele estava mais bonito do que nunca, ela havia terminado outro namoro a pouco tempo... A lembrança do beijo martelava na cabeça. A memória só conseguia alcançar os bons momentos. Resolveram conversar, mas esse não é o forte deles. Se beijaram no lugar. Um, dois, três beijos.
Eu também queria que essa história terminasse com um "felizes para sempre". Mas beijos não são contratos.
"Esse foi um beijo de despedida, que se dá uma vez só na vida. Explica tudo, sem brigas, e clareia o mais escuro dos dias. Tudo bem se não deu certo".
Eles se amaram desesperadamente. Ninguém amou mais ou menos. Só amaram demais. E conversaram de menos. Ela faria tudo diferente, se ele fizesse tudo igual.
"Mas você lembra, você vai lembrar de mim, o nosso amor valeu à pena sim! Lembra, é o nosso final feliz."
Quero terminar citando o ditado popular que foi o lema do relacionamento desses dois: "Os opostos se distraem, os dispostos se atraem". Eles eram opostos dispostos. E eles davam certo sim. É uma pena que acabou.

Com o aperto da saudade e a esperança de um último abraço,
Gabriela.

8.4.10

frigideira não tem tampa, bola oito não tem par




"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregarnas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente! Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém."
(John Lennon)