Muito prazer, meu nome é outono.

26.2.11

Maria Camila

Ela me matará assim que vir o título. Explico. A Maria esconde dos outros o primeiro nome, então, por favor, queridos leitores, chamem-na de Camila. Vocês. Porque ela também não gosta muito quando eu a chamo de Camila, diz parecer que eu estou brigando com ela. Obviamente, detesta quando brigo com ela. Também detesto ter de brigar e, por isso, a chamo de Cams.

Não sei explicar direito como a Cams passou de Maria Camila Lourenço etcetcetc, para Camila, para Cams... De amiga da minha melhor amiga, para conhecida, para uma das minhas melhores amigas. Mas acho que foi aquele abraço. Ela sabe de qual eu to falando. A Cams me disse, nele, exatamente o que eu precisava escutar, mas sem dizer uma só palavra em voz alta. Ela me apertou forte, tirou a franja do meu olho e me deixou sujar a camiseta dela com sal de lágrimas e rímel. Espero que ela saiba que, quando fez isso, tirou metade do aperto no meu peito. Obrigada. Não sei se já te agradeci, mas espero que, ainda assim, tu saibas: aquele abraço salvou o meu dia. E me deu você de presente. Obrigada de novo.

Ela é linda. Bonita mesmo. Tem um cabelo que muda de cor tanto quanto eu mudo de calcinha, olhos verdes com cílios muito pretos, unhas sempre coloridas e pernas tão maravilhosas que deviam usar só shortinho. Sabe combinar rosa com azul e roxo, esfumaçar sombras e usar papel contact. Linda, linda, linda! Ela sabe se vestir pra sair e dançar, mas eu também a acho maravilhosa quando ela acorda vestida com o seu pijama de bolinhas o cabelo embaraçado, olha pra mim com os olhos sujos de rímel, sorri e diz “bom dia, gabs!”.

A Cams está acima do peso, mas não se importa muito com isso e toma sorvete de chiclete mesmo assim. Afinal, como diz a Meg Cabot, tamanho 42 não é gorda e tamanho 44 também não é gorda. Nem ela. Ela não é gorda e também ama a Meg Cabot. Tentei fazê-la ler Stieg Larsson, mas ela me lembrou que ainda é muito nova. Sempre me esqueço disso.

A Camila tem só 16 aninhos, mas eu me recuso a tratá-la feito bebê. É impossível depois do tanto que ela já me provou o contrário. Ela foi madura quando eu me esqueci de ser, segurou a minha mão quando eu precisava fazer algum telefonema difícil e me disse mais de um milhão de vezes o que era muito difícil de escutar, mas precisava ser dito. Ela trabalha, tem piercings e conta tudo para a Tia Marga (mamãe dela, uma fofa!). Ela também já teve de sair correndo de uma boate, vomitou tequila achando que era uma competição e bebeu cerveja na garrafa junto comigo. É muita história pra só 16 anos.

Não sei definir direito o que ela é pra mim. Amiga, irmã, cunhada, prima, secretária, dj. É ela que vem aqui pra casa acabar com um pote de sorvete e assistir a trinta mil filmes... E ela que vai a pé comigo pro bar. É ela que me liga pra jogar banco imobiliário... E ela que está presente em todos os sábados à noite. É ela que largou a escola e, mesmo assim, se oferece pra me ajudar a estudar. Ela me agüenta na TPM, e eu a encho de sorvete na dela. Ela nunca me pede desculpas, porque sabe que as detesto. E eu? Eu não sei. Não sei se é amizade, porque é impossível ser só isso... É um pouco mais. É mais que amor também. Não acaba, não desgasta, não machuca. E eu sei que você sabe que por mais que eu seja boa com as palavras, nem o dicionário inteiro vai conseguir explicar nós duas. Fica aqui registrado, então, o ódio que eu sinto quando você conta pra alguém o barulho que não me faz parar de rir, sua vadia.

Eu amo você.

(Camila vai no Rock in Rio para ver a Katy Perry. E eu a mataria, se não quisesse tanto ir junto com ela).

21.2.11

Joffily

À primeira vista, um fofo. À segunda vista, um amor de pessoa. Simpático, querido. Aposto que tem gente que te vê assim até hoje, mas a mim você não engana.

Tu és um estúpido, babaca, grosso, desastrado, implicante, insensível, idiota, bruto. Demais. Tem doença de velho nas articulações, nos pés, nas músicas, na escrita, nos hobbys, bebidas e comidas. Cheio de manias, trejeitos, reflexões sobre o tudo e o nada. Guarda lugares ao invés de rancor e, além de tudo, é dono de um MacBook. Invejinha. Eu te detestaria, se não gostasse tanto de você.

Sempre gostei. Desde que te vi encharcado naquele primeiro dia de aula fatídico e pensei que tu provavelmente também desejava estar em qualquer outro lugar. Simpatizei. É engraçado pensar, hoje, que algum dia eu já simpatizei contigo. Ainda mais depois que tu começou a pegar táxis pra UnB. Gostava de ter por perto me explicando física, matemática, história, filosofia. Não sei direito como essas matérias viraram OT, FunComVis, IJor e ICom, mas agradeço por elas terem se transformado pra nós dois. Juntos. Com certeza nunca te disse isso, mas, no início, você era meu porto seguro num lugar desconhecido cheio de gente esquisita. Não sei se já te agradeci. De qualquer maneira, obrigada, publicitário.

Publicitário nato, aliás. Do tipo que me mataria se eu justificasse esse texto, ou usasse alguma fonte diferente desta. Mas acho que eu só faria isso se fosse pra te irritar. Não consigo pensar você justificado (ou justificando-se), ou noutra tipografia. Assim como a Helvética, já é impossível não te ter por perto.

Tu, de repente, sabes de todos os meus segredos, relacionamentos e dramas. E eu sei dos teus. Tem liberdade pra me chamar de safada e pra dizer que meus shorts são curtos demais. “Várias vezes, uma vez”. Sei que você vai me zoar eternamente, mas nunca contará nada a ninguém. É de você, eu acho: honesto demais para falsidade. Confiança, liberdade, e nada de julgamentos ou habilidade na sinuca. Nunca me pediu desculpas, porque nunca precisou.

No mais, eu te detesto e te adoro. Detesto sua necessidade de estar sempre certo, suas críticas construtivas, sua atenção nos mínimos detalhes, seu jeito de dizer ‘meu bem’, sua sinceridade exacerbada. Adoro os seus conselhos fáceis de serem seguidos, suas camisetas monocromáticas, sua mochila surrada, seus brindes cervejísticos no/ao por do sol, seu all star preto, sua janelinha subindo no msn.

E amo você.

Na fonte, cor, diagramação e momento certos.

(Dario é ruivo, mas isso é um detalhe menor).

12.2.11

Hora de ir embora

Roupas no chão, porque não quis recolhê-las.
"Hoje foi um dia filho da puta", ela pensou. "Mereço andar seminua pela casa".
Encheu um copo d'água, acendeu um cigarro. Resolveu se deitar, mas não conseguiu pregar os olhos. Tinha pensamentos demais. Resolveu não pensar em nada.
"Merda". - xingou sem motivo aparente.
Levantou-se, precisava de sorvete. Colocou os trapos que deixou jogados, enfiou-se no all star vermelho. Esqueceu de abotoar um ou dois botões da camisa. Cartão de crédito, chave do carro. Poderia muito bem ter ido na sorveteria mais próxima, ou ainda comprado sorvete de flocos no mercado... Mas decidiu ir até o outro lado da cidade. Ou quem sabe até o outro lado da próxima cidade. Deixou a porta aberta. Saiu.
Acho que nunca voltou. Eu não voltaria.

(Gabriela sempre volta).