Muito prazer, meu nome é outono.

3.8.11

Gui

A primeira coisa que me passou pela cabeça foi você.

Seus olhos azuis e seu corpo magro, com braços e pernas desproporcionais ao tamanho do tronco. Irritado e irritando, sempre. Ou, talvez, pedindo-me pra te ver morrer no Call of Duty.

Não pude evitar, sabe.

Tudo o que já te disse, Guilherme, é verdade. Tem horas em que eu queria te matar, mas mataria (e morreria) por você a qualquer hora. Sempre te preferi, você sabe, a qualquer outro homem ou mulher.

Lembrei de como decorou todos os dias do calendário, de como sabe de traz pra frente os presidentes brasileiros. Todos eles. E da primeira música que você tocou no violão, a da pantera cor de rosa. Tarantaran-tan-tan... Tarantaran-tan-tan...

Mas não foi assim claro, sabe. Não foi lúcido como agora te conto.

Era alguma canção do Engenheiros do Hawaii, misturada ao cheiro do seu chulé e à imagem do teu bigodinho de porteiro.

E a força do seu abraço apertado quando eu chegava em casa.

“Oi, gabi”

“Eu te amo, gui”.

“Eu te amo mais!”.

“Ta, agora me solta”.

Não me solta, Gui. Não me solta.

Se ficar pequeno a gente aumenta, cecê, espinhas.

E de como você me acordava pela manhã.

“Bom dia, pequena, vamos andar de bicicleta?”

“SAI,GUI! ME DEIXA DORMIR!”.

Por favor, fique mais um pouco. Deita aqui comigo, tá quentinho embaixo do edredom. Meu quarto não é território proibido, hoje, pelo menos, não.

“NÃO FAZ COSQUINHA, GUI! PARA!”.

“JÁ FALEI PRA TER CUIDADO, GUILHERME!”

“NÃO FAZ TANTO BARULHO!”

“Desculpa, desculpa, desculpa!”

“NÃO DESCULPO”.

Desculpo, pequeno, sei que você não tem culpa.

E se não for possível a gente tenta, Nescau e leite misturados na caneca cruzeirense, verrugas nas pontas dos dedos.

E de como saí de lá brigada contigo.

Me perdoa, irmão?

Dizem que, na hora da morte, a gente pensa em tudo.

Mas última coisa que me passou pela cabeça, foi você.