Muito prazer, meu nome é outono.

21.7.10

Meu (ANTI) herói

Anti sim – e em vermelho, negrito, caixa alta, sublinhado, fonte 40. Porque, definitivamente, ele não é herói. Não possui nem os superpoderes, nem o caráter necessário para ocupar esse cargo. Mas quem é que gosta de heróis? O mundo gosta mesmo é de gente assim, humana. Gente interessante. Gente do jeitinho dele cheia de defeitos, manias, loucuras, imperfeições. Gente como o meu melhor amigo.

Ele não vai pagar – se você não for aquela com o título de namorada – a sua entrada no cinema, não vai te tratar feito coitadinha, não vai te ligar de volta quando você desligar na cara dele. Vai é ficar puto quando você estiver na TPM, te cobrar dez reais pela honestidade e estar sempre te devendo (e te cobrando) dinheiro. Ele fala palavrões, grita com você, bebe pra caralho e ultrapassa no sinal vermelho. É irritante, ciumento, impaciente, insensível, incapaz de tirar fotos de olhos abetos, bruto, idiota, homofóbico, gordo, imbecil, careca, tarado, péssimo perdedor no Mário Kart, preocupado, irritado, irritante... E, ainda assim, uma das melhores pessoas que eu conheço.

O destino o colocou na minha sala de aula há dois anos e um semestre e, nesse meio tempo, ele se tornou uma parte indispensável da minha vida. Seja roubando a minha comida, seja me engordando com as barrinhas de chocolate da Cacau Show. Seja vendo o sol se por na cobertura, seja olhando as estrelas encolhidos no chão e morrendo de frio com mais um monte de gente (depois de ele ter cozinhado um macarrão ao molho branco delicioso, com direito a petit gateau de sobremesa).

Já secou as lágrimas que teimavam em cair no meu rosto, já riu de mim e comigo, já carregou a minha mochila porque tava pesada demais. Confio nele para tudo: dos segredos mais cabeludos, aos conselhos mais importantes. Foi quem estava aqui o tempo inteiro, me desejando boas noites quando mais ninguém parecia se importar. É da masculinidade dele que eu me esqueço de vez em quando, e começo a mostrar todas as roupas compradas no último final de semana. É ele quem me diz se eu engordei ou emagreci, se meu cabelo ficou bom nesse comprimento, se minha roupa ta combinando. São deles os números de telefone e o endereço que eu sei de cor.

Temos histórias. Das engraçadas e duvidosas, às normais e chatas. Era ele o professor de química na véspera da prova, o nerd que me fazia sentar no sofá pra ler pela décima quinta vez o resumo de literatura. Foi graças a ele que eu passei na UnB. E graças a mim que ele entrou também.

Ainda sobre as nossas tardes de “estudos”, lembro-me claramente do dia no qual meu querido melhor amigo me convenceu que era uma ótima ideia nadar um pouco na véspera da prova de física. Era o primeiro dia de sol em semanas, afinal. Também é impossível se esquecer da tarde na qual ele enfiou uma colher de arroz cheia de sorvete pela boca e conseguiu não cuspir, ou de quando ele quase incendiou a minha cozinha por não ter colocado óleo o suficiente na frigideira. Nossa dupla de estudos gerou uma amizade, hoje, indispensável.

É incrível de como não consigo me lembrar de uma única fórmula matemática, mas sei de cor todos os salgadinhos da padaria, os sabores de pizza do postinho e as conversas confidenciais que tínhamos na pausa para o lanche. Ele é a parte errada em mim, a parte espontânea, a parte que não vai me julgar independentemente do quão feio eu erre. Ótimas histórias, maravilhosas lembranças.

Entretanto, ainda mais importante do que as histórias ou lembranças, é aquilo inerente à parte boa da sua personalidade, em especial seu abraço e seu sorriso. O abraço dele é algo surreal. Apertado, e dura pelo menos sete segundos. Dá vontade de ficar ali eternamente. O conforto por dentre aqueles braços era a melhor parte da minha manhã, e, às vezes, eu me arrependo de não ter lhe dito isso mais vezes (se é que já disse alguma vez). O sorriso é de moleque ainda não crescido. É um sorriso implícito, repleto de entrelinhas – diz muito mais do que um simples arranjo de dentes sobre dentes. É do tipo que te deixa feliz também, dá vontade de sorrir junto.

Confesso que meu anti-herói ainda não salvou a minha vida. Mas...

Ele me faz voar ao me empurrar forte para o balanço ir bem alto, salva o branco do meu all star me carregando nas costas pelo trecho cheio de lama. É quem me ajudou a colar de volta o coração em pedaços, quem me contou o que era difícil de escutar, mas precisava ser ouvido. Foi quem me resgatou daquela aula chata de inglês me convencendo a matá-la embaixo de um bloco, e quem me liga sempre para não falar nada, ou para falar tudo.

Os telefonemas, aliás, merecem um parágrafo só deles. Eram, no ano passado, mais da metade da conta de telefone. Conversamos sobre tudo. Política, crise econômica, sexo, livros, gastronomia, relacionamento, fofocas, planos, viagens. Esboço um sorriso toda vez que vejo o número dele na bina, porque sei que a conversa será longa – mas nem um pouco desprazerosa. Peço aqui desculpas sinceras por não ligar um pouco mais, tento sinceramente mudar isso em mim, porque sei o quanto significa para você. Vou colocar na minha listinha de promessas do próximo semestre, ok? Tudo vai voltar a ser como em 2009.

Ainda falta falar do relacionamento dele com a minha família, porque não acho que esse seja um assunto secundário. Meu irmão prefere (de fato) ele a mim, sempre conversam de futebol ou violão, riem juntos, e não se irritam como me irritam. Minha mãe o ama de paixão, quando não estão cozinhando juntos, é ela o convidando para almoçar lá em casa na próxima semana (estrogonofe de carne para o prato principal, mousse de chocolate para a sobremesa). O meu pai não o detesta, e todos que conhecem o relacionamento do meu pai com outros meninos importantes na minha vida sabem que isso já é um avanço magnífico.

Sei que preciso acabar com esse texto de alguma maneira, mas confesso não saber como. As palavras me fogem, porque quero que a gente não termine nunca. Faltam ainda muitas histórias a serem contadas, e ainda mais delas a serem vividas. Sei que o mundo gira e é malvado, separa o que devia ficar sempre junto.

Termino então dizendo que, independentemente de tudo o que está pra acontecer, ele vai ser sempre o meu melhor amigo, o meu mal elemento, o meu anti-herói.

Porque, independentemente de tudo o que está pra acontecer, eu vou ser sempre a primeira pessoa a quem ele disse que amava na cidade de Brasília.

(Gabriela não sabia que sentia tanta falta assim de ter Lucas em seu cotidiano)

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