Muito prazer, meu nome é outono.

6.10.10

Triângulo doloroso


- Eu te amo, mas não estou apaixonada por você.
- Eu te amo e estou apaixonado por você.
- Mentira.
- Verdade.
- Mentira, e Ela?
- Que Ela?
- Ela, Ela... Sua.
- Minha? Você?
- Eu? Não. Não sou sua. Ela!
- Não quero.
- Não agora, mas quem sabe daqui a uns cinco minutos?
- Não Ela. Você.
- Eu não. Ela.
- Desse jeito tá parecendo que é você quem não me quer.
- Não vem com essa, é você que só quer Ela.
- Ela?
- É, Ela. Não vem de novo com isso.
- Mas... Não posso ter as duas?
- Não.
- Por quê?
- Além de todos os estigmas impostos por essa sociedade monogâmica e filha da puta, porque eu te amo.
- ... Mas não é apaixonada por mim.
- É. Mas Ela é.
- Ela, Ela, Ela. Para de falar Dela. E a gente?
- A gente?
- É, nós.
- Não existe nós.
- Como não? Eu, você... Nós.
- Não, nada disso. Eu. Você.
- ... Nós.
- Não. Ela, você... Vocês.
- Não. Eu. Ela. Não somos nós, eu e Ela.
- E porque não?
- Porque eu te amo. E sou apaixonado por você.
- E por que?
- Não sei direito. Vai ver são as músicas, os telefonemas...
- Os passeis de carro, os beijos não dados.
- É.
- É.

Silêncio. O primeiro entre os dois, desde que consigo me lembrar. Ele a olhava nos olhos. Ela olhava de volta. Queria desesperadamente beijá-la, provar que tudo o que dizia era sim verdade. Ela queria querer ir embora, mas, de novo, ficou.
Gabriela não sabe direito porque faz isso. Tem certeza de que é só uma variável de ocasião na história dos dois. Ela é o histórico. É pra lá que ele sempre volta. Vai ver, Gabriela mentiu. Vai ver, talvez seja apaixonada por ele. Mas, definitivamente, não gosta de sofrer. Chorar, gritar, sentir, drama... Não é pra ela.

- Olha, acho que tenho de ir.
- Mas já? O sol ainda nem nasceu.
- Eu sei. Mas tô cansada de te ver só a partir das duas.
- Sei que você tá. Mas é o único jeito... Desculpa.
- Não, não desculpo. Você vai tentar fazer de novo, e de novo. Não desculpo sem arrependimento, você sabe...
- Mas...
- Tenho de ir.

Se levantou da calçada, deu por volta de três passos e...

- Espera!
- O que?
- Quando eu vou te ver de novo?

Ela quis segurar o sorriso, mas não conseguiu. Era impossível ficar tanto tempo sem sorrir por perto dele.

- Em outra vida... Quando nós dois formos gatos.

(Gabriela não é ela).

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