Muito prazer, meu nome é outono.

14.5.10

Ela mora em Brasília, ele em Vitória



Não sei como fui deixar acontecer.
Era o início do verão de 2008, o primeiro dela solteira em muito tempo. Ela estava louca pra curtir, esquecer os problemas, ficar bronzeada, pegar todos e voltar à Brasília cheia de histórias pra contar. Felizmente, voltou com apenas uma. Não se arrepende. É uma ótima história.
Ela é extrovertida, ele tímido. Muito extrovertida, muito tímido. Ele é o melhor amigo da amiga de infância dela... e assim foram apresentados. Ela gostou dele de cara. É muito difícil encontrar meninos assim hoje em dia. Fofos assim, legais assim, que olhem pros seus olhos desse jeito. Ele gostou dela. A primeira vez que se encontraram foi no shopping. O primeiro beijo também foi lá, por volta de quatro horas depois. Ela entende, ele é tímido demais... Mas a conversa fluía. Falaram de ex namorados (dela, ele não tem lá muita experiência nessa área...) à aquecimento global. Despediram-se com um beijo. Ela amou esse beijo, sentiu as borboletas até o dedão do pé. Ele não sabia direito se tinha feito certo. Mas tinha. Tinha feito tudo do jeitinho que ela precisava. E ela sabia no segundo seguinte que estava apaixonada. E Ele, bem... até hoje não sentiu por garota nenhuma o que sentiu naquele primeiro beijo. Esse verão foi maravilhoso, de longe o melhor da vida dela. Foi repleto de risadas, passeios de mãos dadas, conversas, beijos, sorvetes de menta, fugas de casa... Até que ela estragou tudo. Malditas três doses de tequila. Mas ela não ia deixar pra lá, não dessa vez. Engoliu o orgulho e contou pra ele. Ele a perdoou. Perdoou algo que ela não sabia se perdoaria. E perdoou de verdade. Foi o mesmo menino excepcional de antes no agora. Continuou segurando a mão dela. Continuou sorrindo com o canto da boca. Continuou fazendo drama por tudo e achando engraçado o jeito que ela falava "bonito". Foi uma semana excepcional. Mas acabou.
Ela mora em Brasília, ele em Vitória. Mil duzentos e cinquenta e dois quilômetros. E é mesmo uma pena ter certeza que esse pode ser o único problema da relação.
Eles continuaram se falando, é claro. Internet sempre, telefone de vez em quando, nos aniversários... Ela escreveu uma carta pra ele. Duas. Três. Morria de saudades. Queria ele sempre aqui. Não quis enviar pelo correio, queria entregar pessoalmente. Era uma desculpa para vê-lo mais uma vez. É que, agora, ela namorava. Precisava de desculpas. Não podia confessar que só queria ouvir a risada dele pra saber que tava tudo bem.
E o verão chegou outra vez. Nesse eles não se beijaram. Ela estava apaixonada por outro. (qual era mesmo o nome?) Não importa. Ela não conseguia controlar o coração no peito quando o via. Ela tentou. Tentou não sentir a paz da presença dele. Ele tentou. Tentou não segurar a mão dela. Eles tentaram não fazer o mundo ser só deles. Ela entregou a carta. Ele leu. Uma, duas, três vezes. Ele a leu todo dia por quase um mês. (E ela sabe que, até hoje, é isso que ele lê quando se sente sozinho). Mas ela mora em Brasília, ele em Vitória. Mil duzentos e cinquenta e dois quilômetros. É muito, muito longe pra ir de bicicleta. O verão terminou. Se despediram com um 'até amanhã', esperando que o ano passasse depressa... E passou.
Era o ano de vestibular dela, andava atarefada, estudando, namorando, saindo... Não sobrava muito tempo para internet ou telefone. Mas ele sempre tava ali. É incrível como ele a apoiava. Dizia que ela iria conseguir. A ouvia desesperada quando dizia que não aguentava mais. Não só os estudos. O namorado, as amigas... Ele arranjava um jeito de ajudá-la. Não é muito bom com conselhos, não os dava nunca. Mas sempre a fazia rir. Mandava sites, tirinhas do garfield. Mostrava estar presente. Ela é muito grata por isso, principalmente porque sabe o quanto é difícil estar presente com quem está ausente. E ela foi ausente por um ano. E ainda é, às vezes. Não pede desculpas (não as pede com frequência), é só o único jeito que conhece de lidar com a saudade...
E a primavera terminou mais uma vez. O verão voltou! Eles voltaram! Os beijos, abraços, bolas de sorvete, passeios de mãos dadas. O fazer nada sentados olhando o mar. As músicas que ele não entedia e ela tentava explicar. E acabou. Quando ela entrou no ônibus, ela não quis olhar pra trás. Não quis ficar triste porque ele ia embora. Ele tinha vindo, afinal. Foram só quatro dias, aliás, são sempre só quatro ou cinco dias... Mas ela tem certeza (e ele também) que os 365 dias no ano não seriam tão bons sem esse tempinho juntos. São tantas lembranças maravilhosas! Mas ela mora em Brasília, ele em Vitória. Mil duzentos e cinquenta e dois quilômetros. É muito centímetro pra dar conta...
E agora eles estão aí. Vivendo suas vidas separados, mas nunca esquecendo de que já estiveram juntos. Ele é a foto da cabeceira de cama dela. Ela é a primeira pessoa que ele checa se está online.
É um relacionamento lindo, o melhor que os dois já tiveram. Nunca brigaram, ou discutiram. Nunca houve cobrança. Quando tudo tá dando errado (ou mesmo nada tá dando errado e ela só tá com saudade mesmo...) ela fecha os olhos e imagina que tá lá, com ele a abraçando. E fica tudo bem outra vez.
Eles sempre estavam lá um pro outro. Essa é a beleza dos amores de verão: não dá pra acabar. É sempre muito pouco tempo. E esse também é o problema dos amores de verão. Eles dariam tudo pra ficar um pouco mais, pra não ter de ir embora, por um último abraço. Dariam tudo pra amanhã chegar de uma vez, ou pra hoje demorar mais um pouquinho. E é lindo saber que não dá pra acabar com isso. É lindo saber que é recíproco.
Ela mora em Brasília, ele em Vitória. Mil duzentos e cinquenta e dois quilômetros... de amor.


Com a certeza de que o verão sempre volta e a saudade que aperta no peito,
Gabriela.

3 comentários:

  1. que lindo, criou vergonha na cara e escreveu o texto do cadu :') kkkk (L)

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  2. Engraçado. Vivi um amor de verão em meio ao outono. Também foi em Vitória. O único detalhe é que ela é de Brasília e ele também. Mas só funcionou em Vitória. Vai ver é a cidade! hehe :)

    Lindo o post, Gabi. Adoro sua escrita! :)

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  3. Lindo Gabi ! heheheheh sabia que era do seu amor de verão, muito lindo (:

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