Resolvo tomar um café, só para ter certeza de que estou mesmo acordada. Não é, dessa vez, mais um daqueles meus sonhos delirantes de quase adolescente. Não é amor, é ansiedade.
- Só mais trinta e nove minutos, Gabriela. Fica tranquila...
Tento me lembrar do teu perfume misturado à maresia, mas só sinto o cheiro de chuva do último verão. Ainda bem que faz sol
- Um café, por favor.
- Expresso?
- O mais rápido o possível...
A moça do caixa acha graça. Tento retribuir-lhe o sorriso, mas ela percebe a amarelidão.
- Esperando alguém?
- Trinta e quatro minutos.
- Passa rápido...
- É...
Pego o meu Expresso e percebo como os últimos anos passaram bem mais rápido que esses 2040 segundos. Ontem eu tinha catorze, você dezenove. E já te achava bonito. Demais, pra mim. Não é amor, é o gostinho do proibido.
E hoje to aqui, ainda te esperando. É a minha vez de ter dezenove. Mentira se eu disser que nunca te imaginei por aqui. Mas é verdade que nunca achei que tu realmente viria. Tentei não traçar planos, mas imaginei uma vida inteira pra esses quatro dias. Eu e você, tirando fotos de turista. Eu e você, dividindo uma cerveja. Eu e você, na beira do lago olhando o por do sol. Eu e você... Não somos amor.
- Vinte e quatro minutos.
Resolvo dar uma volta e sinto que todo mundo me olha esquisito. Como se todas as minhas roupas fossem pretas e o meu cabelo saísse da cabeça todo espetado...
- Ih, olha lá, a menina engraçada de aparelho nos dentes ainda está apaixonada por ele...
Tenho vontade de gritar que não, não é paixão! Não é amor, não é nada que desperte no estômago borboletas ou baratas. Eu só sinto a sua falta. Do seu sorriso de menino que ainda não cresceu e das nossas conversas intermináveis que, de vez em quando, não viam a madrugada passar.
- Quinze minutos.
Resolvo procurar o seu terminal. Meu coração acelera. Tento conter o frio na barriga e os pelinhos eriçados no meu braço. O seu avião está no pátio. Tenho vontade de sair correndo, minhas bochechas enrubescem e toda a água do meu corpo foge para as mãos... Digo para mim mesma que não é amor, apesar de...
Você chega, finalmente.
Uma mochila nas costas e um sorriso no rosto; e me abraça e, sem querer, me acalma.
- Oi, pequena. – e sorri.
- Oi, sunshine. – e sorrio.
E vamos embora.
Não é amor, é melhor.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu escrevi errado ai em cima, deixa eu tentar de novo:
ResponderExcluirAcho que todo mundo já sentiu isso. Não necessariamente no aeroporto, eu sinto isso direto quando estou no msn. Um sentimento louco, que não é amor, "é melhor". Incrível como você conseguiu descrever perfeitamente. Até as borboletas do meu estômago (que agora estão quietinhas, mas brincam freneticamente toda vez que alguém entra no msn, só pela possibilidade de ser ele) riram com o seu texto. Aquele sorriso de quem concorda com cada vírgula. Parabéns, Gabi! Tu sabes que adoro o blog! :*