Muito prazer, meu nome é outono.

25.5.10

Ela é a gota d'água

Liquefaz, congela, sublima. E não basta.

Não é fã dos meios termos, do morno, do normal. É exagero ou escassez. Enchente ou seca. Reconhece a importância do equilíbrio, mas ainda assim o detesta. O ordinário não é para ela. Vive em ciclos, isso é verdade. Mas nunca o mesmo ciclo.

O banho de chuveiro não a satisfaz, gosta mesmo é de dançar na chuva. Ela é a beleza delicada da nascente ou a grandiosidade da cachoeira. Não vê graça em riachos – calmaria perfeita, tédio irremediável.

Não é assim à toa. Gosta de pensar que é influenciada por Moisés, abridor de mares, não de banheiras. Pelo arco-íris, milagre das tempestades ensolaradas: literalmente, a exuberância inquestionável dos extremos. Pelo floco de neve cristalizado, que demonstra a delicadeza perfeita em meio à brutalidade da nevasca.

Banhos de piscina são sem sal. Chuviscos não chovem, nem molham. Não há encanto na tristeza de olhos marejados, tampouco na felicidade incapaz de solidificar. O sem graça é sim necessário, mas, ao sê-lo, não basta.

O extraordinário é mais. É o indispensável. Prefere mergulhar de ponta e ir embora no segundo seguinte, a passar cem anos flutuando no marasmo da lagoa.

Acha bonito o nascer e o morrer. Vê a beleza em tragédias, e na superação delas. Ou molha os pés, ou morre afogada. Não gosta da água em sua cintura.

E assim vive. Sempre em ciclos, nunca em repetição. A sutil diferença de três graus entre o sólido e o líquido? Não. Ela está sempre fervendo. Ou congelando. Mais de cem, ou menos de zero.

Solidifica, funde, liquefaz, congela, sublima... Mas ainda não basta.

(Gabriela adora dançar na chuva)

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