Muito prazer, meu nome é outono.

8.8.10

O meu enorme rei


“A gente corre o risco de chorar um pouco, ao se deixar cativar!”

(O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry)

De todos os muitos livros, textos, citações e ditados que já passaram por mim, nenhum foi, nem de longe, tão importante quanto “O Pequeno Príncipe”. Confesso que da primeira vez que o li – aos oito anos de idade – não vi graça nenhuma. Sempre fui uma criança chata com esse negócio de animais falantes, rosas resfriadas e pessoas pequenas. Se era para fantasiar, que fosse dentro ou de uma escola de bruxos, ou do submarino Náutilus.

Mas o destino trouxe o principezinho e as suas aventuras de volta. E eu as reli. Em uma, duas, três ocasiões. E, ainda assim, era incapaz de enxergar o elefante dentro da jibóia. Tornei-me, apesar de todas as minhas objeções, uma pessoa grande. E não gostava disso. Sabia que havia, em mim, algo faltando, algo que não estava certo. E foi aí que eu entendi as entrelinhas.

Não se enganem, não é fácil perceber o diminuto. “O Pequeno Príncipe” exige de seu leitor muito mais do que uma mera interpretação de texto. O essencial é (mesmo) invisível para os olhos. É difícil olhar para o céu e se perguntar “Terá ou não terá o carneiro comido a flor?. E ainda mais difícil perceber que o mundo é muito mais feliz (ou muito mais triste) dependendo da resposta. Ou da raposa.

E, agora, reservo os dois próximos parágrafos para lhes falar da flor. E da raposa.

A flor era, para o principezinho, única no mundo. Orgulhosa, metida, vivia resfriada e, por vezes, mentia. Mas ele não a via com esses olhos. Só era capaz de enxergar a beleza por detrás daquele arranjo de pétalas tão diferentes. Só conseguia pensar em cuidar dela, para que ninguém a maltratasse. Achava os espinhos pouco para protegê-la, e foi de quem mais sentiu falta quando foi embora de seu pequeno planeta. Foi o tempo que dedicara a sua flor que a tornara tão importante. Sinto pena de quem não tem ou nunca teve uma flor em sua vida. A flor é importante. Muito mais do que todas as outras muito mais bonitas, vivas e saudáveis, enfeitadoras de outros jardins. E só é assim tão essencial por conta de suas manias e defeitos.

A raposa ensina o principezinho a cativar. E mais, implora para que ele a cative. Ele o faz, com paciência, com a linguagem fonte de mal-entendidos. Os dois vão, pouco a pouco, tornando-se grandes amigos. Ele foi sentando cada dia mais perto, ela perdeu o medo. Ele cumpre as promessas, chega sempre no mesmo horário. Ela sorri. Até que chega a hora da despedida, e só resta, para ela, a plantação de trigo que lembra os cabelos loiros do seu amigo que teve de partir. E, para ele, ficam as lembranças extraordinárias dos momentos passados com a sua grande amiga. A gente corre o risco de chorar um pouco, ao se deixar cativar. Mas são lágrimas que valem à pena.

Antes de “O Pequeno Príncipe”, eu era do tipo que pensava nas pessoas pequenas como menores do que nós. Já gostava do pôr do sol, é verdade... Mas só para fotos bonitas de beijos apaixonados. Não encostava nas rosas porque tinha medo de espinhos, e achava todas as raposas iguaizinhas.

Mas depois de entender as entrelinhas, acho inevitável dividir as pessoas entre aquelas que entendem o desenho de uma criança, e aquelas que dizem para desistirem da carreira de pintor. Quero, ainda, assistir ao pôr do sol 43 vezes em um só dia, mas sem fotografá-lo – porque não quero ninguém revelando algo que, para mim, tem um poder tão extraordinário. Hoje entendo que as rosas não tem espinhos, mas sim acúleos. São uma defesa facilmente removível, uma vez que você tem a coragem de se aproximar. E, quanto às raposas... Encontrei várias que me cativaram, mas nunca me fizeram chorar. Às vezes, a plantação de trigo é desnecessária para se lembrar de alguém. Tem raposas que ficam para sempre.

O principezinho, para mim, virou rei. E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tamanha importância!

(Gabriela nunca sonhou e ser miss universo e já leu vários livros com mais de quinhentas páginas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário